Minhas Linhas
"Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira - mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum." Monteiro Lobato (Mundo da Lua, 1923)
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
sábado, 13 de agosto de 2016
Homem da Terra
Manhã de Setembro...
Grama úmida e pássaros cantando à luz do sol que o
Criador ergueu
A tempestade já passou lá fora
Assim se passa no reino verde, assim se passa lá dentro,
no terreno de nossa consciência
Somos ocasionalmente sacudidos por torrentes e ventos que
a existência manda ao nosso encontro
Nossa estrutura sofre avarias sim e por vezes a árvore do
nosso ser tem muitos dos seus galhos quebrados
Nossas aspirações...
Mas a raiz precisa permanecer
Deve!
Ora... Onde ainda há raízes sempre há também a esperança
de novas flores, novos frutos
Renovação.
Então, secreto amigo, não tenha medo da chuva
Não viemos de uma prateleira, não somos de açúcar!
Viemos da terra, somos os filhos do Éden
Também somos uma força da natureza
Também podemos suportar as intempéries do existir e do
ser
Como as montanhas que contra tudo ousam permanecer.
Palavra de Aço - Capítulo 16: Lição não indolor
_Vocês quatro
fizeram muito bem Reshi. _ observou Bast _ É dito que a periculosidade de Susph
só é superada pelo Chtaeh. A liberdade dela seria um perigo a todos os
mundos.
_Você voltou a encontrar os Irmãos Elric
depois disso? _ indagou o Cronista.
_Não, nunca
mais nos vimos. É uma pena. Gostaria muito de saber o que aconteceu a eles. _
respondeu o hospedeiro.
Kote se
levantou da mesa e foi até a lareira onde adicionou um pouco mais de lenha ao
fogo. O frio noturno se intensificava. Ajeitando a lenha com o cutucador o
homem ruivo falou:
_Sabem... acho
que muita insensatez da minha parte poderia ter sido evitada se eu tivesse
aprendido mais cedo a lição que a vida tentou me ensinar naquela ocasião.
_E que lição seria essa Reshi? _ perguntou
Bast intrigado.
Os olhos do hospedeiro estavam fixos nas
brasas quando ele respondeu seu pupilo:
_” Aquele que
nada sacrifica nada é capaz de obter”. _ havia uma nota de pesar em sua voz.
Iluminado pelo
fogo Kote ficou em silêncio. Um silêncio profundo e amplo como o fim do outono.
Pesado como um pedregulho alisado pelo rio. Era o som paciente – som de flor
colhida – do homem que espera a morte.
FIM
Palavra de Aço - Capítulo 15: Palavra de aço
Era uma manhã
fresca. Edward Elric e eu observávamos o Rio Omethi sentados sobre a mureta da
Ponte de Pedra. Usávamos roupas limpas e estávamos fisicamente recuperados
depois de alguns dias na Iátrica. Ed estava sem seu braço biomecânico. Sua mala
estava atrás de nós.
_Ainda
não acredito que a derrotamos. _ disse eu.
_Também
tenho dificuldade nisso. _ declarou Ed.
Um
peixe se agitou nas águas lá embaixo.
_Usar
ferro contra ela foi muito inteligente da sua parte. _ observei.
_Lógica do senso comum. Pelo menos funcionou.
Mas me explique: aquilo que você fez com meu automail, sua espada e o raio foi
Nomeação também?
_Não.
Foi Simpatia. É uma espécie de redirecionamento de energia.
_Eu
vi de longe. Não sei o que aconteceu primeiro: a carbonização ou a explosão
causada pelo superaquecimento do óleo da prótese. Foi para virar tema de
canção.
Ri
com meu melhor riso de Grande Taborlin.
_E como foi que você conseguiu trazer todas as
pessoas transmutadas de volta vivas? _ interroguei depois.
_A Pedra Filosofal que era o núcleo de Susph
não se desfez mesmo após o corpo dela desintegrar-se. Deduzo que foi em razão
dela ter sido criada com a combinação de alquimia e o que vocês chamam de
magia. Se eu estivesse limitado a círculos de transmutação teria tido sérios
problemas para reverter a troca com um braço só. Nunca havia tentado semelhante
processo. Foi sorte ter dado certo.
Conversamos
sobre várias outras coisas. Mas não ousei perguntar a Ed sobre o misterioso
grupo secreto que ele vinha enfrentando ao lado do irmão em Amestris. Pelo modo
que eu o ouvira falar deles tratava-se de uma questão antiga que ele se via na
obrigação de resolver, tal como eu enxergava o Chandriano. Ed também não me fez
mais perguntas sobre rhintas.
Depois de algum tempo Alphonse chegou. A
armadura vinha da Ficiaria e estava nova em folha.
_Como
está Al? _ perguntou Ed.
_Me movimentando muito melhor. Além de me
reparar Mestre Kilvin gravou algumas runas de compensação de peso em mim. E
nosso guia, onde está?
_Está se recuperando em outro lugar. _
respondi _ Ele insiste em dizer que usar da medicina dos bárbaros não é da
Lethani.
_Que fanático. _ comentou Ed _ Ainda não
entendi o que essa tal Lethani é. É uma religião?
_ Não é uma religião. _ expliquei _ É um
caminho de existência. Religiões exigem que façamos coisas diferentes. A
Lethani exige que sejamos diferentes.
_É
não é a mesma coisa? _ interrogou Alphonse.
_É
muito diferente. _ falei.
_Olhem,
falando no sujeito... _ apontou Ed.
Nós nos voltamos. Tempi vinha da direção de
Imre. Tinha um ótimo aspecto. Estava acompanhado por uma moça de cabelos
louro-avermelhados. No rostinho de elfo de Devi eu vi uma expressão que passara
a conhecer depois de minhas últimas viagens: a expressão de uma mulher
satisfeita com um homem. Era na residência dela que o ademriano estivera sendo
“tratado”.
Alphonse
suspirou sonoramente. Ed, com uma indignação cômica, disse:
_Francamente... é a quarta desde que deixamos Haerth.
Não pude
evitar uma risada. Decidi amenizar
possíveis embaraços. Desci da mureta e cumprimentei os dois recém chegados:
_Olá Tempi. Olá Devi.
_Olá.
_Olá Kvothe. Olá rapazes. _ ela sorria de
orelha a orelha.
_Como
está o seu ombro Tempi? _ perguntei.
_Está muito bom. _ se apressou a responder
Devi _ A cicatrização do ferimento vai de vento em popa. Apliquei nele uma
pasta preparada com ervas da região do Ademre.
Eu cuidei muito bem do Tempi. _
Num gracejo ela beliscou o braço do “camisa de sangue”.
O
ligeiro sorriso do mercenário foi de alguém que sabia um segredo.
Mas
uma pergunta maior ainda martelava em minha cabeça:
_Tempi,
como você sobreviveu ao raio que lhe atingiu na luta?
O
ademriano desembainhou sua espada e exibindo o fio explicou:
_Há muito tempo havia um ferreiro no Ademre.
Conhecia o fogo por seu nome. Seguia a Lethani. Com seu poder fez várias
espadas de metais raros para servir aos ademrianos durante a dura guerra que
acontecia. Minha espada é uma delas. Foi forjada de aço e de um metal que não
se encontra mais no mundo. Chama-se hef e repele eletricidade. Muito útil em
altitudes elevadas. O que recebi em meu corpo foi choque forte. Intensidade
maior do raio já dispersada antes.
_Incrível!
_ exclamou Alphonse.
Edward
desceu da mureta da ponte e pegando sua maleta disse:
_O papo está interessante mas temos que ir
agora. Amestris está muito distante e nossa jornada será longa. _ Ed estendeu
sua única mão para mim_ Kvothe, foi um grande prazer conhece-lo. O seu auxílio
foi precioso. Obrigado por tudo.
Também estendi meu braço a ele.
_O
prazer foi todo meu Ed. Dê meus cumprimentos a Roy Mustang.
Nosso
aperto de mãos foi firme.
_Espero
que vocês consigam restaurar seus corpos. _ falei.
_E eu espero que você encontre as
respostas que procura. _ disse Ed.
Devi
devolveu-me o alaúde e o estojo “penhorados” assim como o relógio de Alquimista
do Estado de Ed. Em seguida nos despedimos de Alphonse e Tempi. Posso jurar que
ela derramou uma lágrima enquanto observava o mercenário de afastar com os
outros.
Quando os três já iam ao final da ponte
gritei:
_ED, VOCÊ TEM QUE PROMETER!
_PROMETER O QUÊ? _ perguntou Ed
virando-se.
_PROMETER QUE
VAI CONTAR EM AMESTRIS A HISTÓRIA DO FABULOSO HERÓI QUE TRANSFORMOU SEU
AUTOMAIL NUMA BOMBA!
Mesmo a longa
distância eu soube que O Alquimista de Aço sorriu. Antes de se voltar e descer
a Ponte de Pedra eu o ouvi declarar bem alto:
_EU, EDWARD
ELRIC, JURO SOLENEMENTE QUE ATÉ OS DIAS DE MINHA VELHICE REPETIREI OS FEITOS DE
KVOTHE, O ALQUIMISTA DO VENTO. DOU MINHA PALAVRA DE AÇO!
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