quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

sábado, 13 de agosto de 2016

Homem da Terra



Manhã de Setembro...
Grama úmida e pássaros cantando à luz do sol que o Criador ergueu
A tempestade já passou lá fora
Assim se passa no reino verde, assim se passa lá dentro, no terreno de nossa consciência
Somos ocasionalmente sacudidos por torrentes e ventos que a existência manda ao nosso encontro
Nossa estrutura sofre avarias sim e por vezes a árvore do nosso ser tem muitos dos seus galhos quebrados
Nossas aspirações...
Mas a raiz precisa permanecer
Deve!
Ora... Onde ainda há raízes sempre há também a esperança de novas flores, novos frutos
Renovação.
Então, secreto amigo, não tenha medo da chuva
Não viemos de uma prateleira, não somos de açúcar!
Viemos da terra, somos os filhos do Éden
Também somos uma força da natureza
Também podemos suportar as intempéries do existir e do ser
Como as montanhas que contra tudo ousam permanecer.

Palavra de Aço - Capítulo 16: Lição não indolor



_Vocês quatro fizeram muito bem Reshi. _ observou Bast _ É dito que a periculosidade de Susph só é superada pelo Chtaeh. A liberdade dela seria um perigo a todos os mundos. 
_Você voltou a encontrar os Irmãos Elric depois disso? _ indagou o Cronista. 
_Não, nunca mais nos vimos. É uma pena. Gostaria muito de saber o que aconteceu a eles. _ respondeu o hospedeiro. 
Kote se levantou da mesa e foi até a lareira onde adicionou um pouco mais de lenha ao fogo. O frio noturno se intensificava. Ajeitando a lenha com o cutucador o homem ruivo falou:
_Sabem... acho que muita insensatez da minha parte poderia ter sido evitada se eu tivesse aprendido mais cedo a lição que a vida tentou me ensinar naquela ocasião.
_E que lição seria essa Reshi? _ perguntou Bast intrigado.
Os olhos do hospedeiro estavam fixos nas brasas quando ele respondeu seu pupilo: 
_” Aquele que nada sacrifica nada é capaz de obter”. _ havia uma nota de pesar em sua voz.
Iluminado pelo fogo Kote ficou em silêncio. Um silêncio profundo e amplo como o fim do outono. Pesado como um pedregulho alisado pelo rio. Era o som paciente – som de flor colhida – do homem que espera a morte. 

 FIM

Palavra de Aço - Capítulo 15: Palavra de aço



Era uma manhã fresca. Edward Elric e eu observávamos o Rio Omethi sentados sobre a mureta da Ponte de Pedra. Usávamos roupas limpas e estávamos fisicamente recuperados depois de alguns dias na Iátrica. Ed estava sem seu braço biomecânico. Sua mala estava atrás de nós.
            _Ainda não acredito que a derrotamos. _ disse eu.
            _Também tenho dificuldade nisso. _ declarou Ed.
             Um peixe se agitou nas águas lá embaixo. 
             _Usar ferro contra ela foi muito inteligente da sua parte. _ observei.
 _Lógica do senso comum. Pelo menos funcionou. Mas me explique: aquilo que você fez com meu automail, sua espada e o raio foi Nomeação também? 
            _Não. Foi Simpatia. É uma espécie de redirecionamento de energia. 
            _Eu vi de longe. Não sei o que aconteceu primeiro: a carbonização ou a explosão causada pelo superaquecimento do óleo da prótese. Foi para virar tema de canção. 
             Ri com meu melhor riso de Grande Taborlin.
 _E como foi que você conseguiu trazer todas as pessoas transmutadas de volta vivas? _ interroguei depois. 
 _A Pedra Filosofal que era o núcleo de Susph não se desfez mesmo após o corpo dela desintegrar-se. Deduzo que foi em razão dela ter sido criada com a combinação de alquimia e o que vocês chamam de magia. Se eu estivesse limitado a círculos de transmutação teria tido sérios problemas para reverter a troca com um braço só. Nunca havia tentado semelhante processo. Foi sorte ter dado certo.  
Conversamos sobre várias outras coisas. Mas não ousei perguntar a Ed sobre o misterioso grupo secreto que ele vinha enfrentando ao lado do irmão em Amestris. Pelo modo que eu o ouvira falar deles tratava-se de uma questão antiga que ele se via na obrigação de resolver, tal como eu enxergava o Chandriano. Ed também não me fez mais perguntas sobre rhintas. 
 Depois de algum tempo Alphonse chegou. A armadura vinha da Ficiaria e estava nova em folha. 
            _Como está Al? _ perguntou Ed.
 _Me movimentando muito melhor. Além de me reparar Mestre Kilvin gravou algumas runas de compensação de peso em mim. E nosso guia, onde está?  
 _Está se recuperando em outro lugar. _ respondi _ Ele insiste em dizer que usar da medicina dos bárbaros não é da Lethani. 
 _Que fanático. _ comentou Ed _ Ainda não entendi o que essa tal Lethani é. É uma religião?
 _ Não é uma religião. _ expliquei _ É um caminho de existência. Religiões exigem que façamos coisas diferentes. A Lethani exige que sejamos diferentes.
             _É não é a mesma coisa? _ interrogou Alphonse.
            _É muito diferente. _ falei.
            _Olhem, falando no sujeito... _ apontou Ed. 
 Nós nos voltamos. Tempi vinha da direção de Imre. Tinha um ótimo aspecto. Estava acompanhado por uma moça de cabelos louro-avermelhados. No rostinho de elfo de Devi eu vi uma expressão que passara a conhecer depois de minhas últimas viagens: a expressão de uma mulher satisfeita com um homem. Era na residência dela que o ademriano estivera sendo “tratado”. 
             Alphonse suspirou sonoramente. Ed, com uma indignação cômica, disse:
            _Francamente...  é a quarta desde que deixamos Haerth.  
Não pude evitar uma risada.  Decidi amenizar possíveis embaraços. Desci da mureta e cumprimentei os dois recém chegados:
_Olá Tempi. Olá Devi. 
_Olá. 
_Olá Kvothe. Olá rapazes. _ ela sorria de orelha a orelha. 
             _Como está o seu ombro Tempi? _ perguntei. 
 _Está muito bom. _ se apressou a responder Devi _ A cicatrização do ferimento vai de vento em popa. Apliquei nele uma pasta preparada com ervas da região do Ademre.
Eu cuidei muito bem do Tempi. _ Num gracejo ela beliscou o braço do “camisa de sangue”.
             O ligeiro sorriso do mercenário foi de alguém que sabia um segredo. 
             Mas uma pergunta maior ainda martelava em minha cabeça:
             _Tempi, como você sobreviveu ao raio que lhe atingiu na luta?
             O ademriano desembainhou sua espada e exibindo o fio explicou:
 _Há muito tempo havia um ferreiro no Ademre. Conhecia o fogo por seu nome. Seguia a Lethani. Com seu poder fez várias espadas de metais raros para servir aos ademrianos durante a dura guerra que acontecia. Minha espada é uma delas. Foi forjada de aço e de um metal que não se encontra mais no mundo. Chama-se hef e repele eletricidade. Muito útil em altitudes elevadas. O que recebi em meu corpo foi choque forte. Intensidade maior do raio já dispersada antes.  
            _Incrível! _ exclamou Alphonse. 
            Edward desceu da mureta da ponte e pegando sua maleta disse:
 _O papo está interessante mas temos que ir agora. Amestris está muito distante e nossa jornada será longa. _ Ed estendeu sua única mão para mim_ Kvothe, foi um grande prazer conhece-lo. O seu auxílio foi precioso.  Obrigado por tudo. 
Também estendi meu braço a ele. 
            _O prazer foi todo meu Ed. Dê meus cumprimentos a Roy Mustang. 
            Nosso aperto de mãos foi firme. 
             _Espero que vocês consigam restaurar seus corpos. _ falei. 
_E eu espero que você encontre as respostas que procura. _ disse Ed. 
Devi devolveu-me o alaúde e o estojo “penhorados” assim como o relógio de Alquimista do Estado de Ed. Em seguida nos despedimos de Alphonse e Tempi. Posso jurar que ela derramou uma lágrima enquanto observava o mercenário de afastar com os outros. 
Quando os três já iam ao final da ponte gritei:
_ED, VOCÊ TEM QUE PROMETER! 
_PROMETER O QUÊ? _ perguntou Ed virando-se. 
_PROMETER QUE VAI CONTAR EM AMESTRIS A HISTÓRIA DO FABULOSO HERÓI QUE TRANSFORMOU SEU AUTOMAIL NUMA BOMBA! 
Mesmo a longa distância eu soube que O Alquimista de Aço sorriu. Antes de se voltar e descer a Ponte de Pedra eu o ouvi declarar bem alto:
_EU, EDWARD ELRIC, JURO SOLENEMENTE QUE ATÉ OS DIAS DE MINHA VELHICE REPETIREI OS FEITOS DE KVOTHE, O ALQUIMISTA DO VENTO. DOU MINHA PALAVRA DE AÇO!